O jovem Rafael Anjos Martins, de 28 anos, morreu nesta quinta-feira (23) após permanecer 52 dias em coma devido à intoxicação por metanol. Ele havia ingerido gin falsificado comprado em uma adega na Cidade Dutra, Zona Sul de São Paulo, durante uma confraternização em 30 de agosto.
Desde 1º de setembro, Rafael estava internado na UTI do Hospital São Luiz, em Osasco, dependente de ventilação mecânica. O laudo médico apontou 155 mg/l de metanol no organismo, nível que excede o limite de 100 mg/l associado a coma profundo e falência orgânica. O jovem não apresentava fluxo sanguíneo cerebral.
“Com o coração apertado, venho compartilhar que o nosso querido Rafael partiu para os braços de Deus. Depois de 53 dias em coma, o Senhor o chamou para descansar em paz, livre de toda dor e sofrimento”, informou a família em comunicado.
Confraternização que terminou em tragédia
Rafael e cinco amigos consumiram o gin importado comprado na adega da Cidade Dutra. O amigo Diogo Marques de Sousa, auxiliar de produção, relatou que não desconfiaram de irregularidades na bebida. “Eu acordei desesperado porque abri o olho e não estava enxergando nada, tudo preto e uma dor de cabeça muito forte”, contou.
Horas depois, Rafael e uma das amigas começaram a se sentir mal, apresentando sintomas como dor de cabeça intensa, confusão mental e problemas de visão. Rafael foi levado imediatamente ao hospital, onde passou por procedimentos para remoção da toxina do sangue, mas os danos já haviam atingido o cérebro e o nervo óptico.
Amigos que consumiram a mesma bebida apresentaram sintomas leves, como náuseas e perda visual parcial, mas recuperaram-se com tratamento rápido. Dos cinco amigos, quatro precisaram de atendimento hospitalar, mas apenas Rafael permaneceu internado.
Oitava morte por metanol em SP
Rafael é a oitava vítima fatal de intoxicação por metanol no estado de São Paulo. Em boletim divulgado na quarta-feira, o Ministério da Saúde informou que o País registra 10 mortes por intoxicação por metanol.
A primeira morte confirmada no estado foi a do empresário Ricardo Lopes Mira, que apresentou sintomas no dia 9 de setembro e morreu seis dias depois. Entre as outras vítimas estão Marcos Antônio Jorge Junior, Bruna Araújo (30 anos), Marcelo Lombardi (45 anos), Leonardo Anderson (37 anos), Daniel Antonio Francisco Ferreira (23 anos) e Cleiton da Silva Conrado (25 anos).
O número de casos confirmados de intoxicação por metanol no estado subiu para 42 até esta quarta-feira (22).
O que é metanol e seus perigos
O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos. É altamente perigoso quando ingerido. Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte.
Os sintomas da intoxicação incluem visão turva ou perda da visão, náuseas, vômitos, dores abdominais, cefaleia, taquicardia, convulsões e sudorese intensa, principalmente após ingestão de bebidas de procedência desconhecida.
Investigação em andamento
A Polícia Civil investiga a origem da adulteração, com perícia em garrafas apreendidas no local de compra. Na adega da Zona Sul, foram apreendidas as duas garrafas consumidas e outras 14 lacradas, que foram encaminhadas à perícia.
A mãe de Rafael, Helena Martins, que é enfermeira, desabafou: “É um crime o que estão fazendo. Hoje é meu filho, amanhã não sei quem pode ser”.
O Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo recomenda que bares, empresas e estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos. Qualquer suspeita deve ser reportada imediatamente aos serviços de emergência e aos órgãos de saúde competentes.

